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CAPITULO I ENCONTRO COM OS MEUS CAMARADAS-1
日期:2024-05-16 09:35  点击:289
É bem estranho que n’esta minha idade, aos cincoenta e seis annos feitos, esteja eu aqui, de penna na mão, preparando-me a redigir uma historia!
 
Nunca imaginei que tão prodigiosa occorrencia se podesse dar na minha vida--vida que me parece bem cheia, e vida que me parece bem longa... Sem duvida, por a ter começado tão cedo! Com effeito, na idade em que os outros rapazes ainda soletram nos bancos da escóla, já eu andava agenciando o meu pão por esta velha colonia do Cabo. E por aqui fiquei desde então, mettido em negocios, em serviços, em travessias, em guerras, em trabalhos--e n’essa dura profissão, que é a minha, a caça ao elephante e ao marfim. Pois, com toda esta diligencia, só ultimamente, ha oito mezes, arredondei o meu sacco. É um bom sacco. É um sacco graúdo, louvado Deus. Creio mesmo que é um tremendo sacco! E apesar d’isso, juro, que para o sentir assim, redondo e soante entre as mãos, não me arriscava a passar outra vez os transes d’este terrivel anno que lá vai. Não! Nem tendo a certeza de chegar ao fim com a pelle intacta e com o sacco cheio. Mas eu no fundo sou um timido, detesto violencias, e ando farto, refarto de aventuras!
 
Como dizia pois, é coisa estranhissima que assim me lance a escrever um livro. Não está nada no meu feitio ser homem de prosa e de letras--ainda que, como outro qualquer, aprecio as bellezas da Santa Biblia e gózo com a Historia do Rei Arthur e da sua Tavola Redonda. No emtanto tenho razões, e razões consideraveis, para tomar a penna com esta mão inhabil que ha quasi cincoenta annos maneja a carabina. Em primeiro logar, os meus companheiros, o barão Curtis e o digno capitão da Armada Real John Good (a quem chamo por habito «o capitão John») pediram-me para relatar e publicar a nossa jornada ao Reino dos Kakuanas. Em segundo logar, estou aqui em Durban, estirado n’uma cadeira, inutilisado para umas semanas, com os meus achaques na perna. (Desde que aquelle infernal leão me traçou a côxa de lado a lado, fiquei sujeito a estas crises, todos os annos, ordinariamente pelos fins do outono. Foi em fins de outono que apanhei a trincadella. É duro que depois de um homem matar, no decurso da sua honrada carreira, quarenta e cinco leões, seja justamente o ultimo, o quadragesimo sexto que o file e use d’elle como de tabaco que se masca. É duro! Quebra a rotina, a estimavel rotina--e para mim, pessoa d’ordem, qualquer surpreza me sabe peor do que fel). Em terceiro logar, além d’encher os meus ocios, componho esta historia para meu filho Henrique, que está em Londres, interno no hospital de S. Bartholomeu, estudando Medicina. É uma maneira de lhe mandar uma longuissima carta que o entretenha e que o prenda. Serviço de doentes, n’uma enfermaria abafada e lobrega, deve pesar intoleravelmente. Mesmo o retalhar cadaveres termina por ser uma rotina, rica em monotonia e tedio:--e assim esta historia, onde tudo ha menos tedio, vai por uns dias levar ao meu rapaz uma saudavel e alegre sensação de aventuras, de viagens, de força e de vida livre. E emfim, como ultima razão, escrevo esta chronica, por ser, sem duvida, a mais extraordinaria que conheço--na Realidade ou na Fabula. Digo «extraordinaria» mesmo para os Leitores profissionaes de Romances--apesar de n’ella não haver mulheres, além da pobre Fulata. Ha Gagula, sim. Mas esse monstro tinha cem annos, pouca fórma humana, e não sensibilisa. Em todas estas duzentas paginas, realmente, não passa uma saia. E todavia, assim escasso como é nas graças do Feminino, não creio que exista um caso mais raro e mais captivante.

A unica vez que tive de fazer publicamente uma narração foi diante dos Magistrados, no Natal, quando depuz como testemunha sobre a morte dos nossos serviçaes Khiva e Vanvogel. Por essa occasião comecei assim, muito dignamente, com approvação de todos, com louvores do periodico de Durban:--«Eu, Allão Quartelmar, residente em Durban, no Natal, gentleman, declaro e juro que...»--Não me parece porém que seja esta a adequada maneira de principiar um livro. Além d’isso posso eu affirmar, em typo de imprensa, que «sou um gentleman?» O que é um gentleman? O que é ser gentleman? Conheço aqui Cafres nús que o são: e conheço cavalheiros chegados de Inglaterra, com grandiosas malas e anneis d’armas nos dedos, que o não são. Eu, pelo menos, nasci gentleman--apesar de me ter volvido depois n’um pobre e simples caçador de elephantes. Ora, se n’essa carreira e nos acasos que ella me trouxe, permaneci sempre gentleman, não me compete a mim avaliar. Deus sabe que com valente esforço procurei conservar-me gentleman--como nascera. Tenho morto, é certo, muito homem: mas estas duas mãos, bem haja a minha fortuna, estão puras de sangue inutil. Matei para que me não matassem. O Senhor deu-nos as nossas vidas, como sagrados depositos que lhe pertencem e que devemos defender. Guiei-me sempre por este principio: e conto que o bom Deus, um dia, me dirá lá em cima--«Fizeste bem, Quartelmar!» Este mundo, meus amigos, é aspero de atravessar: e os destinos violentos impõem-se por vezes com uma logica inexoravel. Aqui estou eu, homem ordeiro, timido, bonacheirão, que, constantemente, desde creança, me acho envolvido em carnificinas! Felizmente nunca roubei. Uma occasião, é verdade, abalei com quatro vaccas que pertenciam a um Cafre. Mas o Cafre tinha-me rapinado sordidamente--e desde então essas quatro vaccas trago-as sempre na consciencia. Só quatro vaccas. Pois têm-me pesado mais que uma manada de gado!
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